Um Olhar sobre os Fundamentos Teórico-Metodológicos da Geografia Humana e seu Papel no Ensino

1.      Introdução

A Geografia Humana é uma disciplina que estuda as relações entre as pessoas e o ambiente, sendo seus fundamentos teórico-metodológicos de extrema importância para o ensino. Através do estudo da Geografia Humana, é possível compreender as diferentes formas de organização da sociedade, as relações econômicas, políticas e culturais que se estabelecem entre os grupos sociais e a natureza, além de compreender a dinâmica dos espaços urbanos e rurais.

Dessa forma, a Geografia Humana possui um papel fundamental no ensino, pois contribui para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes da realidade em que vivem. O estudo dessa disciplina permite que os estudantes compreendam as complexas interações entre a sociedade e o meio ambiente, bem como as consequências socioambientais dos processos econômicos e políticos em curso no mundo.

Além disso, a Geografia Humana é essencial para a formação de profissionais em diversas áreas, como planejamento urbano, gestão ambiental, geoprocessamento, entre outras. Por isso, o estudo dessa disciplina é de grande relevância para o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias para o mercado de trabalho.

 

1.1.Objectivos

1.1.1.      Geral:

ü  Analisar os fundamentos teórico-metodológicos da Geografia Humana e o seu papel no ensino, tendo como base a compreensão das mudanças socioeconómicas em curso e a sua influência na organização do espaço geográfico, com o intuito de contribuir para a formação de cidadãos críticos e conscientes.

1.1.2.      Específicos:

ü  Identificar as teorias e metodologias que sustentam o ensino de Geografia Humana e sua aplicação na análise das mudanças económico-sociais;

ü  Compreender como a Geografia Humana pode contribuir para a formação de cidadãos críticos e reflexivos, capazes de compreender as complexas relações entre a sociedade e o espaço geográfico;

ü  Identificar as principais dificuldades encontradas no ensino de Geografia Humana, como a falta de recursos didáticos e a abordagem superficial dos fenômenos estudados;

ü  Explorar as oportunidades oferecidas pelo ensino de Geografia Humana, como a conscientização ambiental, o desenvolvimento do senso crítico e a compreensão da diversidade cultural;

ü  Analisar as mudanças na sociedade contemporânea e como elas influenciam as relações socio espaciais, explorando as diferentes teorias e metodologias que permitem a compreensão dessas relações.

1.2. Metodologia

Para dar vida a este trabalho, recorreu-se ao método de consultas de referências bibliográficas. 



 

2.      Fundamentos teórico-metodológicos da Geografia Humana

Os fundamentos teórico-metodológicos da Geografia Humana estão pautados em diversas correntes teóricas e metodológicas que buscam compreender as relações entre a sociedade e o meio ambiente. Dentre elas, podemos destacar duas correntes:

Geografia Crítica: Esta corrente teórica se preocupa em analisar as relações de poder que se estabelecem na sociedade e como elas se refletem no espaço geográfico. Ela tem como principal representante David Harvey, que propõe a análise das contradições e conflitos presentes na sociedade e como eles se manifestam no espaço geográfico. Segundo Harvey, (2005) “o espaço é um produto social e, portanto, deve ser analisado como tal.”

Geografia Cultural: Esta corrente teórica busca compreender como as pessoas constroem e atribuem significado aos lugares. Ela tem como principal representante Yi-Fu Tuan, que defende que “o espaço é um produto da interação entre as pessoas e o ambiente, e que cada sociedade constrói uma relação única com o espaço geográfico” (Tuan, 1980).

Essas correntes teóricas, juntamente com outras, como a Geografia Ambiental e a Geografia Econômica, contribuem para a construção dos fundamentos teórico-metodológicos da Geografia Humana, permitindo o estudo das relações entre a sociedade e o meio ambiente sob diferentes perspectivas.

Geografia Econômica: Esta corrente teórica estuda as relações entre a economia e o espaço geográfico. “Ela busca compreender como as atividades econômicas se organizam e se distribuem no espaço, bem como os impactos socioeconômicos dessas atividades” (Santos, 1996).

Geografia Ambiental: Esta corrente teórica estuda as relações entre a sociedade e o meio ambiente. “Ela enfatiza os impactos ambientais das atividades humanas e a necessidade de uma gestão ambiental adequada” (Becker, 2007).

Essas correntes teóricas e metodológicas, juntamente com outras, como a Geografia Política e a Geografia Social, contribuem para a construção de um conjunto de conhecimentos que permitem a compreensão das complexas relações entre a sociedade e o meio ambiente.

Eles são essenciais para o ensino da Geografia Humana, pois permitem que os estudantes desenvolvam uma visão crítica e reflexiva sobre a realidade em que vivem, contribuindo para a formação de cidadãos mais conscientes e participativos.

 

3.      Mudanças econômico-sociais e objetivos da escola

As mudanças econômico-sociais têm um grande impacto nos objetivos da escola e na forma como a educação é concebida e aplicada. Com a globalização e a intensificação das transformações sociais e econômicas, é necessário que a escola esteja preparada para lidar com essas mudanças e garantir que seus objetivos estejam alinhados com as necessidades da sociedade contemporânea.

Nesse sentido, autores como Libâneo e Saviani destacam a importância de se pensar em uma educação que esteja voltada para a formação de cidadãos críticos e reflexivos, capazes de compreender e lidar com as transformações econômico-sociais em curso.

Segundo Libâneo (2008, p.84):

A ideia de que a escola deve ser um espaço de construção de saberes e competências necessários para o exercício da cidadania e da participação social. A educação deve ser pensada como um processo que contribui para o desenvolvimento integral do indivíduo, envolvendo tanto a dimensão cognitiva quanto a afetiva e social.

Já Saviani (1991) “destaca a importância de se pensar em uma educação que esteja voltada para a transformação social, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.” Para o autor, a escola deve ter como objetivo formar indivíduos capazes de compreender e atuar de forma crítica frente às relações sociais, políticas e econômicas em que estão inseridos.

Esses autores, juntamente com outros pensadores da educação, destacam a importância de se pensar em uma educação que esteja em consonância com as mudanças econômico-sociais em curso e que contribua para a formação de cidadãos capazes de lidar com essas mudanças de forma crítica e reflexiva.

A Geografia Humana, por sua vez, tem um papel fundamental nesse processo, uma vez que permite compreender as relações entre a sociedade e o meio ambiente em diferentes contextos, contribuindo para a formação de uma visão crítica e reflexiva sobre a realidade em que vivemos.

É importante destacar que as mudanças econômico-sociais também afetam a própria estrutura da escola e sua organização. A introdução de novas tecnologias, por exemplo, tem mudado a forma como o conhecimento é transmitido e como os alunos aprendem.

A globalização, por sua vez, tem intensificado a necessidade de se desenvolver competências e habilidades que permitam a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho cada vez mais competitivo.

Perrenoud (1999, p.35) refere que:

A importância de se desenvolver um ensino que esteja voltado para a formação de competências, habilidades e valores necessários para a vida em sociedade.  É preciso que a escola esteja atenta às demandas do mundo contemporâneo e que seja capaz de desenvolver uma educação que contribua para a formação de indivíduos capazes de lidar com as mudanças econômico-sociais de forma crítica e reflexiva.

 

Além disso, a educação também deve estar atenta às questões sociais e culturais, garantindo que todos os indivíduos tenham acesso a uma educação de qualidade, independente de sua origem social, étnica ou cultural. Nesse sentido, Freire (2005) refere que: “a importância de se pensar em uma educação que esteja voltada para a libertação dos indivíduos, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.” p.77

Em suma, as mudanças econômico-sociais têm um grande impacto nos objetivos da escola e na forma como a educação é concebida e aplicada. É fundamental que a escola esteja preparada para lidar com essas mudanças e que seus objetivos estejam alinhados com as necessidades da sociedade contemporânea, contribuindo para a formação de cidadãos críticos e reflexivos.

A Geografia Humana, por sua vez, tem um papel fundamental nesse processo, uma vez que permite compreender as relações entre a sociedade e o meio ambiente em diferentes contextos, contribuindo para a formação de uma visão crítica e reflexiva sobre a realidade em que vivemos.

 

4.      Problemas de identidade do estatuto epistemológico da Geografia Humana no ensino

O debate em torno da identidade do estatuto epistemológico da Geografia é antigo, mas também actual. Com este conteúdo, enaltecem-se as ideias desenvolvidas no âmbito da identidade do estatuto epistemológico da Geografia e do seu ensino, a partir do estudo sobre os aspectos conceptuais referentes ao papel e objectivos da Geografia e do seu ensino, enquadrados nos pressupostos para a melhoria do ensino de Geografia em Moçambique.

Pois, num país como Moçambique, aberto ao mundo e preocupado com a reorganização espacial do seu território, a qualidade de ensino da Geografia não pode deixar de ser uma prioridade no sistema de ensino em geral. E reflectir sobre essa qualidade de ensino é manifestar o interesse de contribuir na busca de possíveis soluções sobre os problemas de âmbito espacial.

Ressalta-se o papel do factor histórico social, como via para a compreensão sobre alguns procederes que caracterizam o ensino da Geografia durante a sua evolução, interpretando algumas das suas “crenças”, algumas das quais se fundamenta a prática de ensino da Geografia em Moçambique, particularmente no 2º ciclo do Ensino Secundário Geral.

O problema da identidade do estatutos epistemológicos da Geografia tem reflexos significativos no ensino, ou seja em todo o processo de formação geográfica. Na história da evolução de ciências há referências de que não existe disciplina científica cujo conceito tenha variado tanto através dos tempos como a Geografia, muito embora mantendo sempre o mesmo aspecto de estudo, identificado com uma certa unanimidade como “o aspecto espacial”. (Zodorov et al, 1990, p.8).

Harvey, (1993) propõe a compreensão do espaço como uma construção social, que é produzido pelas relações de poder, pela luta de classes e pelas contradições do sistema capitalista. Tuan, (1983) por sua vez, em "Espaço e Lugar", enfatiza a importância da dimensão subjetiva do espaço, apontando para a necessidade de se considerar as experiências, as emoções e os sentimentos das pessoas na construção do espaço geográfico.

Santos (1978) “propõe uma crítica ao pensamento geográfico tradicional, que separa as dimensões físicas e humanas do espaço.” Para ele, a Geografia deve ser entendida como uma ciência social, que se dedica à compreensão das relações sociais e espaciais.

Além de Santos, uma outra referência importante na Geografia Humana é a obra "O Espaço Geográfico: Ensaios e Abordagens" de Roberto Lobato Corrêa. Neste livro, o autor apresenta uma análise das principais correntes teóricas da Geografia, destacando a importância do espaço geográfico na compreensão das dinâmicas sociais e culturais.

 

Por fim, é importante ressaltar que o estatuto epistemológico da Geografia Humana no ensino está em constante evolução e mudança, uma vez que as teorias e metodologias utilizadas na disciplina são dinâmicas e estão em constante transformação. Dessa forma, é necessário que os professores estejam sempre atualizados e abertos a novas abordagens e perspectivas, para garantir uma formação adequada e atualizada aos estudantes.

 

5.      Papel da Geografia Humana no ensino

A Geografia Humana desempenha um papel fundamental no ensino, uma vez que é responsável por estudar a relação entre a sociedade e o espaço em que vive. Para Carneiro, (1993, p.43) “essa disciplina permite compreender como as atividades humanas moldam e são moldadas pelo ambiente em que estão inseridas, além de investigar as formas como as pessoas interagem entre si e com o meio ambiente.”

O papel da Geografia Humana no ensino é oferecer aos alunos uma compreensão crítica e reflexiva sobre as relações entre sociedade e ambiente. Alguns dos conteúdos abordados em Geografia Humana incluem:

v  Espaço e sociedade: estudo das formas como as pessoas utilizam e transformam o espaço em que vivem, e como as estruturas sociais e políticas influenciam essas transformações.

v  Globalização: análise das mudanças econômicas, políticas e culturais que têm ocorrido no mundo nas últimas décadas e como essas transformações afetam as relações entre países, culturas e regiões.

v  Desigualdades socioespaciais: estudo das desigualdades sociais, econômicas e culturais que se manifestam no espaço urbano e rural, incluindo o acesso desigual a serviços e recursos.

v  Migração e mobilidade: análise dos processos migratórios e da mobilidade humana, e como esses processos afetam as relações entre as pessoas e as sociedades.

v  Meio ambiente e sustentabilidade: estudo das relações entre a sociedade e o meio ambiente, incluindo a análise dos problemas ambientais e as formas de promover a sustentabilidade.

 

 

5.1. Contribuições da Geografia Humana para a formação dos alunos

A Geografia Humana pode contribuir para a formação dos alunos ao possibilitar que eles compreendam e analisem a realidade em que vivem, considerando as inter-relações entre os elementos naturais e humanos em sua configuração espacial e os determinantes histórico-sociais das diversas organizações espaciais.

 

Carneiro, (1993, p.129-138). Refere que:

A geografia é uma ciência que trata dos elementos naturais e humanos em sua configuração espacial, em vista de uma explicitação relacional-interativa da construção do mundo pelo homem. Ela também defende que a geografia escolar pode contribuir para a formação de um cidadão socialmente consciente e participativo, que possa conhecer e compreender a realidade em que vive, para decisões de ação nesse meio.

 

5.2. Desafios e oportunidades no ensino de Geografia Humana

Segundo Silva & Sousa, (2020, p.2):

Desde seu reconhecimento enquanto disciplina escolar, a Geografia passa por impasses no que tange ao interesse que é capaz de despertar nos estudantes. Um dos grandes problemas reside no fato de que essa área do conhecimento é tida pelos alunos como sem grande significado e aplicabilidade em seu cotidiano, realidade que decorre de práticas distantes e abstratas por parte de muitos professores.

O ensino de Geografia Humana apresenta desafios e oportunidades que podem influenciar significativamente a formação dos alunos. Entre os desafios do ensino de Geografia Humana, podemos citar:

v  Falta de recursos didáticos: o ensino de Geografia Humana requer a utilização de recursos didáticos específicos, como mapas, gráficos e outras ferramentas de análise espacial. Muitas escolas não dispõem desses recursos, o que pode prejudicar a qualidade do ensino.

v  Abordagem superficial: a Geografia Humana abrange uma grande variedade de temas, como urbanização, desenvolvimento regional, migrações, entre outros. No entanto, muitas vezes o ensino é superficial e não aprofunda a compreensão dos fenômenos estudados.

v  Falta de contextualização: a Geografia Humana é uma disciplina que se dedica ao estudo das relações entre os seres humanos e o meio ambiente em que vivem. No entanto, muitas vezes o ensino não contextualiza os fenômenos estudados, o que pode dificultar a compreensão dos alunos.

v  Dificuldade em relacionar teoria e prática: a Geografia Humana é uma disciplina que combina a teoria com a prática. No entanto, muitas vezes o ensino não consegue relacionar os conceitos teóricos com a realidade vivida pelos alunos.

Apesar desses desafios, o ensino de Geografia Humana também apresenta oportunidades para a formação dos alunos. Algumas dessas oportunidades incluem:

v  Desenvolvimento do senso crítico: o ensino de Geografia Humana permite aos alunos desenvolver o senso crítico em relação aos fenômenos socioespaciais que ocorrem em seu entorno.

v  Conscientização ambiental: a Geografia Humana aborda temas relacionados à relação entre os seres humanos e o meio ambiente em que vivem, o que pode contribuir para a conscientização ambiental dos alunos.

v  Compreensão da diversidade cultural: a Geografia Humana permite aos alunos compreender as diferentes culturas e modos de vida presentes em diferentes regiões do mundo.

v  Desenvolvimento de habilidades espaciais: o ensino de Geografia Humana permite aos alunos desenvolver habilidades espaciais, como a leitura de mapas, a interpretação de gráficos e a análise de dados espaciais.

Dessa forma, o ensino de Geografia Humana apresenta desafios e oportunidades que devem ser considerados para que os alunos possam compreender de forma mais ampla a relação entre a sociedade e o espaço geográfico em que vivem.


 

6.      Conclusão

Bom em conclusão a Geografia Humana é uma disciplina que estuda as relações entre a sociedade e o espaço geográfico, considerando aspectos históricos, culturais, políticos e econômicos. Seu papel no ensino é fundamental para que os alunos possam compreender a complexidade do mundo em que vivem e a relação entre os seres humanos e o meio ambiente.

No entanto, a Geografia Humana enfrenta desafios em relação à sua identidade epistemológica no ensino. Isso porque, muitas vezes, ela é considerada uma disciplina de cunho descritivo e factual, sem uma base teórica sólida que possa sustentar suas análises.

Para superar esse problema, é necessário compreender que a Geografia Humana possui fundamentos teórico-metodológicos sólidos, que a tornam uma disciplina de caráter crítico e reflexivo. Além disso, é preciso reconhecer que as mudanças econômico-sociais que ocorrem na sociedade contemporânea são fundamentais para a análise da Geografia Humana e seu papel no ensino.

Nesse sentido, os objetivos da escola devem estar alinhados com a necessidade de formar cidadãos críticos e reflexivos, capazes de compreender a complexidade das relações socioespaciais que ocorrem em seu entorno. Para isso, é preciso que o ensino de Geografia Humana vá além da mera descrição de fenômenos e explore as diferentes teorias e metodologias que permitem a compreensão dessas relações.


7.      Referências bibliográficas

Becker, B. (2007). Geopolítica da Amazônia. Rio de Janeiro: Garamond.

Carneiro, S. M. (1993). Importância educacional da geografia. Educação em Revista, (9),  

        129-138. https://doi.org/10.1590/0104-4060.113

Corrêa, R. L. (1989). O Espaço Geográfico: Ensaios e Abordagens. São Paulo: Ática.

Freire, P. (2005). Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.

Harvey, D. (2005). A produção do espaço. São Paulo: Annablume.

Harvey, D. (1993). A Condição Pós-Moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança

        cultural. São Paulo: Edições Loyola,.

Libâneo, J. C. (2008). Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos

        conteúdos. São Paulo: Loyola.

Perrenoud, P. (1999). 10 Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed.

Santos, M. (1978). Por uma Geografia Nova: Da crítica da geografia a uma geografia

       crítica. São Paulo: Hucitec.

Santos, M. (1996). A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:

       Hucitec.

Silva, D. E. & Sousa, D. G. (2020). Papel do ensino de geografia no século XXI: desafios e

       perspectivas. Revista de Ensino de Geografia, 12(22), 1-14.

Saviani, D. (1991). Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses  

       sobre educação e política. São Paulo: Cortez.

Tuan, Y. (1980). Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.  

       São Paulo: Difel.

Tuan, Y. (1983). Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel.

Zodorov, K. et al. (1990). Geografia Sócio-Económica no Sistema de Ciências – texto de

       apoio. Maputo: INDE/Editora Escolar.

 

 

 

 

  

A ética nas relações pessoais no ambiente de trabalho: um olhar para os princípios éticos na educação

 

1.      Introdução

A ética é um assunto fundamental em todas as esferas da vida, e o ambiente de trabalho não é exceção. Quando se trata de relações pessoais no trabalho, a ética desempenha um papel crucial na garantia de um ambiente de trabalho saudável e produtivo. Os princípios éticos são essenciais para orientar as decisões e ações de profissionais em suas interações diárias, e na educação, não é diferente.

Nesta perspectiva, este tema enfoca a importância dos princípios éticos na educação como forma de promover a ética nas relações pessoais no ambiente de trabalho. Vamos explorar como esses princípios podem ser aplicados no cotidiano dos educadores para criar um ambiente de trabalho mais ético, justo e respeitoso.

As relações pessoais no ambiente de trabalho são fundamentais para a construção de um ambiente saudável e produtivo. No entanto, elas podem ser permeadas por desafios éticos que afetam tanto os indivíduos quanto a organização como um todo. Nesse contexto, é essencial compreender os princípios éticos que norteiam as relações interpessoais no trabalho e como aplicá-los de forma prática.

 

1.1.Objectivos

1.1.1.      Geral:

ü  Analisar a importância dos princípios éticos na educação e sua aplicação no ambiente de trabalho, visando a promoção de relações interpessoais saudáveis, respeitosas e éticas entre colaboradores, contribuindo para o fortalecimento de valores e a melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho.

1.1.2.      Específicos:

ü  Explicar o conceito de ética e ética profissional, incluindo sua importância na sociedade e no ambiente de trabalho;

ü  Explorar as teorias de Aristóteles e Immanuel Kant sobre ética e sua relevância para as discussões contemporâneas sobre ética;

ü  Descrever de forma clara as funcionalidades da ética profissional na educação;

ü  Analisar o papel da ética profissional na educação, incluindo suas funções e benefícios para educadores e estudantes;

ü  Destacar a importância da ética profissional nas relações de trabalho;

ü  Fornecer exemplos práticos de dilemas éticos que profissionais podem enfrentar em suas respectivas áreas e discutir estratégias para resolvê-los de maneira responsável e ética.

1.2. Metodologia

Para dar vida a este trabalho, recorreu-se ao método de consultas de referências bibliográficas. 

 

 

2.      Definição da ética e ética profissional

A ética é o conjunto de princípios e valores que orientam o comportamento humano em sociedade enquanto que a ética profissional é a aplicação desses princípios e valores no ambiente de trabalho e no exercício de uma profissão. A ética profissional visa garantir o bem-estar dos profissionais, dos clientes, dos colegas e da sociedade em geral.

Aristóteles, (2009, p.7) define que:  

A ética é um campo de estudo que busca entender como podemos viver uma vida virtuosa e alcançar a felicidade. Para ele, a virtude é alcançada através da prática constante de ações virtuosas, que são aquelas que levam ao bem-estar do indivíduo e da sociedade.

Para Kant, (2013), “a ética é baseada no dever moral, e não na busca da felicidade ou do prazer.” Ele acreditava que a moralidade se baseia em princípios universais que são racionais e podem ser aplicados a todas as situações, independentemente das circunstâncias. Essa abordagem ficou conhecida como ética deontológica.

A ética é uma área da filosofia que se ocupa de estudar os valores, princípios e normas que orientam o comportamento humano. A ética busca definir o que é certo e o que é errado, o que é justo e o que é injusto, e como as pessoas devem se comportar em relação aos outros e ao mundo ao seu redor.

A ética, portanto, trata do que é moralmente aceitável em determinadas situações e do que é considerado inadequado ou imoral. Por sua vez, a ética profissional é a área da ética que se concentra nas normas éticas que regem o comportamento dos profissionais em suas respectivas áreas de atuação.

Cada profissão tem suas próprias normas éticas, que variam de acordo com as demandas e particularidades do trabalho em questão. Essas normas éticas visam garantir que os profissionais ajam de forma responsável, transparente e em conformidade com os valores e as expectativas da sociedade em que atuam.

Dois autores importantes na área da ética são Aristóteles e Immanuel Kant. Em sua obra "Ética a Nicômaco", Aristóteles propõe uma teoria ética baseada no conceito de virtudes. Para ele, as virtudes são hábitos ou disposições que levam as pessoas a agir corretamente. Aristóteles argumenta que a ética não se resume a seguir regras externas, mas sim a cultivar virtudes como a coragem, a justiça, a prudência e a temperança, que nos permitem alcançar a excelência e a felicidade na vida.

Em resumo, a ética e a ética profissional são áreas importantes para garantir a conduta ética e responsável das pessoas em sociedade. Autores como Aristóteles e Kant propuseram teorias éticas que ainda são relevantes hoje em dia e que nos permitem refletir sobre como devemos agir de forma ética e responsável em nossas vidas pessoais e profissionais.

3.      Funcionalidades da ética profissional na educação

Para Freire (1987, p.35), “a ética profissional na educação é um conjunto de princípios e valores que orientam o comportamento dos educadores em relação aos seus alunos, colegas, gestores, família e sociedade.” A ética profissional na educação visa garantir a qualidade do processo educacional, o respeito à diversidade, a promoção da cidadania e a formação integral dos educandos.

A ética profissional na educação tem diversas funcionalidades, tais como:

Ø  Estabelecer normas e regras de conduta que devem ser seguidas pelos educadores em seu exercício profissional, evitando situações de abuso, negligência, discriminação ou violação dos direitos dos alunos.

Ø  Promover a reflexão crítica sobre os valores e as finalidades da educação, bem como sobre os dilemas e os desafios éticos que envolvem a prática pedagógica.

Ø  Desenvolver nos educadores uma postura de compromisso social, de responsabilidade e de respeito pelos interesses e necessidades dos educandos, dos colegas e da comunidade escolar.

Ø  Fomentar o diálogo, a cooperação, a solidariedade e o reconhecimento mútuo entre os educadores e os demais agentes educativos, buscando a construção coletiva do projeto político-pedagógico da escola.

Ø  Contribuir para a formação ética dos educandos, estimulando o desenvolvimento de valores como a honestidade, a justiça, a tolerância, a autonomia e o senso crítico.

Sabendo que a ética profissional é um conjunto de princípios e normas que regem o comportamento dos profissionais em suas atividades laborais. Na área da educação, a ética é fundamental para o exercício da docência, pois auxilia na formação de profissionais responsáveis, éticos e comprometidos com a educação de qualidade.

Freire (1996), defendeu que, “a ideia de que a educação é um ato político e ético, que deve ser pautado pelo diálogo, pela problematização e pela conscientização dos educandos sobre a sua realidade social.” Enquanto que Arroyo (2000), “defendeu a ideia de que a ética profissional na educação deve ser baseada na defesa dos direitos humanos, na valorização da diversidade cultural e na emancipação dos sujeitos.”

Para Cortina (1997, p.85), “a ideia de que a ética profissional na educação deve ser baseada na cidadania e na democracia, visando formar cidadãos responsáveis e solidários em uma sociedade pluralista.”

Em suma, as funcionalidades da ética profissional na educação são diversas e essenciais para a formação de cidadãos críticos e conscientes. A partir dos princípios éticos, é possível estabelecer normas de conduta, incentivar a atualização constante e construir relações de confiança com a sociedade.

3.1. Exemplos de boa conduta ética profissional na educação

Segundo Freire (1996, p.61), “a conduta ética é fundamental para qualquer profissional, especialmente na área da educação, onde a formação de cidadãos críticos e responsáveis é uma das principais metas.” Nesse sentido, exemplos de boa conduta ética profissional na educação são essenciais para a construção de uma prática docente mais justa, transparente e comprometida com a formação dos alunos.

A boa conduta ética profissional na educação é aquela que respeita os princípios e valores que orientam o comportamento dos educadores em relação aos seus alunos, colegas, gestores, família e sociedade. Para Antunes (2009), “a boa conduta ética profissional na educação visa garantir a qualidade do processo educacional, o respeito à diversidade, a promoção da cidadania e a formação integral dos educandos.”

 

 

Alguns exemplos de boa conduta ética profissional na educação são:

v  Tratar com respeito e educação os alunos, professores e demais funcionários da escola, evitando situações de abuso, negligência, discriminação ou violação dos direitos dos alunos;

v  Ensinar aos alunos o que é ética e sua importância nos diversos níveis como, por exemplo, ambiente de trabalho, família, escola, grupo de amigos e etc

v  Esclarecer e cumprir com clareza aos alunos os métodos de ensino e avaliações, sendo justo na correção e avaliação de provas e trabalhos escolares12.

v  Ouvir e respeitar as opiniões dos alunos, estimulando o desenvolvimento de valores como a honestidade, a justiça, a tolerância, a autonomia e o senso crítico12.

v  Buscar a qualidade no processo educacional, atualizando-se constantemente e buscando novas metodologias e recursos didáticos2.

v  Cumprir prazos na entrega de documentações, diários, avaliações, notas e etc1.

v  Não expor erros ou deficiências de alunos na frente de toda classe. Conversar com o aluno em particular1.

v  Respeitar e ser educado no relacionamento com outros professores, alunos, pais de alunos e profissionais da escola1.

v  Não fazer comentários em sala de aula sobre o comportamento ou métodos de ensino de outros professores1.

v  Seguir a proposta educacional da escola, assim como seus métodos de avaliação1.

v  Agir de forma proativa no que se refere à integração de alunos com deficiência física ou transtorno psicológico1.

Nóvoa (2009), afirma que “a importância da ética profissional na prática docente. Ele argumenta que os professores devem ser reflexivos e críticos em relação à sua própria prática, bem como responsáveis e comprometidos com o bem-estar dos seus alunos.”

Enquanto que a  Lima, M. (2017), “defende a ideia de que a ética deve ser incorporada ao currículo escolar, não apenas como um conjunto de regras a serem seguidas, mas como um conjunto de valores e princípios que orientam a ação dos professores e dos alunos.”

Por fim, Gimeno (2013), argumenta que:

Os professores devem estar comprometidos em ajudar os alunos a desenvolver suas próprias capacidades, habilidades e interesses, respeitando sua individualidade e suas diferenças culturais e sociais. Gimeno Sacristán também enfatiza a importância de uma educação crítica, que ajuda os alunos a entender e questionar as estruturas sociais e políticas que afetam suas vidas.

 

4.      Importância da ética profissional nas relações de trabalho

A ética profissional é importante para garantir a qualidade das relações de trabalho, pois define padrões de conduta e valores que orientam o comportamento dos profissionais no ambiente laboral. A ética profissional busca estabelecer normas e princípios que orientem a conduta dos indivíduos, garantindo que as relações entre as pessoas sejam justas, honestas e respeitosas. “Os valores éticos têm um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social das sociedades, pois influenciam a forma como as pessoas trabalham e se relacionam entre si” (Weber, 2004).

A ética profissional tem um papel crucial na formação de profissionais responsáveis e conscientes, capazes de desenvolver suas atividades com integridade e respeito pelos direitos e interesses dos outros. “Uma empresa ética tem maior capacidade de atrair e reter talentos, conquistar a lealdade dos clientes e se diferenciar no mercado” (Drucker, 2005).  

Além disso, a ética profissional é importante para a construção da reputação das empresas, uma vez que uma empresa que se preocupa com a ética e a integridade de suas práticas tende a ser mais valorizada pelo mercado e pelos seus clientes.

Em suma, a ética profissional é um elemento crucial para o sucesso das relações de trabalho e para o desenvolvimento de profissionais competentes e conscientes. Os autores Max Weber e Peter Drucker destacam a importância da ética profissional em suas obras, enfatizando como os valores éticos podem influenciar positivamente as atividades profissionais e as organizações como um todo.

A ética profissional é importante para garantir um clima organizacional saudável, positivo e produtivo, além de contribuir para a reputação e o sucesso da empresa. Alguns exemplos de atitudes éticas são:

v  Responsabilidade;

v  Honestidade;

v  Confiabilidade;

v  Respeito;

v  Colaboração e trabalho em equipe;

v  Conhecer os valores da empresa;

v  Seguir o código de ética da profissão;

v  Ter consciência dos seus direitos e deveres;

v  Evitar conflitos de interesse;

v  Respeitar as diferenças e buscar o aprimoramento contínuo.

4.1. As estratégias para a melhor aplicação da ética no ambiente de trabalho

Josephson, M. (1997), “a ética no ambiente de trabalho é fundamental para o bom funcionamento de uma organização.” Para aplicar a ética de forma eficaz no ambiente de trabalho, é importante adotar algumas estratégias, tais como:

v  Estabelecer um código de conduta: É importante criar um conjunto de diretrizes éticas para orientar as ações dos funcionários. O código de conduta deve ser claro e abrangente, e deve ser comunicado de forma eficaz para garantir que todos na empresa o entendam e o sigam;

v  Treinamento em ética: É essencial fornecer treinamento regular em ética para os funcionários, para que eles possam entender as práticas éticas e incorporá-las em sua rotina diária de trabalho;

v  Políticas de transparência: As políticas de transparência devem ser implementadas para garantir que as atividades da empresa sejam conduzidas de forma aberta e honesta. Isso ajuda a criar uma cultura de confiança e responsabilidade dentro da empresa;

v  Fortalecimento do ambiente ético: Os líderes da organização devem ser modelos éticos e incentivar um ambiente de trabalho ético. Isso inclui promover valores éticos e encorajar os funcionários a agir de forma ética em todas as situações.

 

 

5.      Conclusão

Conclui, portanto, que a ética profissional é fundamental para as relações pessoais no ambiente de trabalho, principalmente na educação, que é uma área em que se lida com a formação moral e cidadã dos indivíduos. A ética profissional tem a função de promover a justiça, a equidade, a integridade, a honestidade, a responsabilidade e o comprometimento dos profissionais da educação com a formação dos alunos.

Nas relações de trabalho, a ética profissional também é essencial para o bom funcionamento das organizações e para a promoção de um ambiente de trabalho saudável e produtivo. É importante que os profissionais da educação estejam cientes da importância da ética profissional e apliquem os princípios éticos em suas ações diárias, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.


6.      Referências bibliográficas

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